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Karen é uma das coautoras de Mulheres do Marketing, com selo da Editora Leader

A história íntima e profunda da sobrecarga cognitiva

Todo dia enfrentamos dezenas de decisões, a maioria das quais julgaríamos banais ou insignificantes – calçar primeiro o pé esquerdo ou o pé direito da meia, ir de ônibus ou de metrô para o trabalho, onde e quando fazer sua compra do supermercado.

A maioria de nós adota a estratégia de vida conhecida como Satisficing (ou seja: aceita aquilo que está disponível como uma opção satisfatória), termo cunhado por Herbert Simon, vencedor do Nobel e um dos fundadores do campo da teoria organizacional e de processamento de informação. Simon queria uma palavra que descrevesse não a melhor opção possível, e sim uma que chegasse a ser satisfatória.

Quando se trata de coisas que não são de importância crucial, optamos por algo que dê para o gasto. Não sabemos se a tinturaria em que levamos nossas roupas é de fato a melhor do bairro – sabemos apenas que ela dá para o gasto. E é isso que nos ajuda a levar a vida. Não temos tempo de experimentar todas as tinturarias em um raio de 24 quarteirões de nossa casa. Será que aquele supermercado 24 horas tem mesmo a melhor relação entre custo e benefício? Não importa – é bom o bastante.

Satisficing é uma das bases do comportamento produtivo do homem; é o que prevalece quando não perdemos tempo com decisões pouco importantes, ou, para ser mais exata, quando não perdemos tempo tentando obter um máximo que não irá fazer grande diferença, quanto ao nosso bem-estar ou à nossa satisfação.

Todos nós adotamos o Satisficing ao limpar a casa, por exemplo. Se nos ajoelhássemos no chão todo dia com uma escova de dentes para limpar a sujeira, se limpássemos as janelas e paredes diariamente, a casa ficaria impecável. Nós limpamos a casa até que ela fique suficientemente limpa, até atingir uma espécie de equilíbrio entre o trabalho e o benefício. É este custo-benefício que está no âmago da noção de Satisficing.

As recentes pesquisas de psicologia social demonstram que pessoas felizes não são as que possuem mais coisas; antes, são pessoas satisfeitas com o que já possuem. Pessoas felizes adotam o Satisficing o tempo todo, ainda que sem saber.

Warren Buffett é uma dessas pessoas que levam esse conceito ao extremo. Certa vez, em uma entrevista no rádio, ele declarou ter comprado alguns litros de leite e pacotes de biscoito Oreo para seu café da manhã durante a semana inteira que passou em New York. Mas Buffett não adota o critério da satisfação relativa, em suas estratégias de investimento; a satisfação relativa é uma boa ferramenta para não se perder tempo com coisas que não têm prioridade máxima. Para os empreendimentos de alta prioridade, a velha busca por excelência ainda é a estratégia certa.

Você quer que seu cirurgião, o mecânico do avião ou o diretor de um filme publicitário de orçamento de 100 milhões de reais façam um serviço bom o suficiente ou o melhor do que são capazes? Às vezes queremos algo mais do que Oreo e um copo de leite.

Hoje nos defrontamos com uma quantidade inacreditável de informações, e cada um de nós gera mais informação do que nunca na história da humanidade. A geração passada testemunhou uma explosão de opções apresentadas aos consumidores. Em 1976, um supermercado médio tinha em torno de 10 mil produtos distintos; hoje esse número inflou para 40 mil, embora uma pessoa comum satisfaça de 80% a 85% de suas necessidades em um universo de apenas 150 artigos. Isso significa que precisamos ignorar mais de 39 mil artigos em estoque. E estamos falando apenas de um supermercado.

Todo esse processo de ignorar e optar tem um custo. Os neurocientistas descobriram que a falta de produtividade e de motivação pode ser resultado de sobrecarga de decisões. Embora a maioria de nós não tenha dificuldade em relativizar a importância das decisões, o cérebro não faz isso automaticamente. É como se nosso cérebro fosse configurado para tomar um determinado número de decisões por dia e, chegando a esse limite, não pudéssemos decidir qualquer outra coisa, a despeito da sua importância. Uma das mais úteis e recentes descobertas da neurociência pode ser assim resumida: no nosso cérebro, a rede de tomada de decisões não determina prioridades.

Nossos cérebros possuem, sim, a capacidade de processar a informação que recebemos, mas a um custo: podemos ter dificuldade em separar o trivial do importante, e processar toda essa informação cansa. Os neurônios são células vivas que possuem um metabolismo; precisam de oxigênio e glicose para sobreviver, e, quando muito exigidos, o resultado é que sentimos cansaço.

Em suma, quando enfrentamos muitas escolhas atraentes, nos sentimos preocupados com o desapontamento. Estamos aterrorizados com a falta de qualquer coisa que pareça excitante. De fato, as evidências mostram que aqueles com menos opções em uma tarefa decisória obtiveram maior satisfação com os resultados de suas decisões.

Aprenda a economizar seu maior ativo – o tempo – fazendo escolhas com melhor custo-benefício, não se preocupando em obter o melhor o tempo todo, e avaliar cada resultado em seus próprios méritos.

Karen Fuoco – Fundadora-CEO da ReBrandme e coautora do livro Mulheres do Marketing

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Profissional de Marketing e especialista em construção de marcas. Influenciadora na área de Comunicação, ministra aulas e palestras sobre Branding & Storytelling. Graduada em Marketing pela ESPM com pós-graduação na FGV, possui mais de 14 anos de experiência em projetos integrados. Colaboradora de conteúdo dos sites Meio & Mensagem, CCSP e B9. Ex-executiva da Google Internet, DM9, DDB New York e da Pereira & O'Dell em San Francisco, onde bebeu das fontes do Vale do Silício por anos. Nomeada como Talento do Grupo de Comunicação ABC, oportunidade que a consolidou no mercado de Marketing. Depois de uma carreira de grandes aprendizados em multinacionais, empreende seu próprio negócio e hoje é a principal executiva da ReBrand.me - empresa especializada em desenvolvimento de personal & professional brands.