As boas meninas vão para o céu… “Não fui eu!”

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“Há pouco me encontrei em uma situação em que eu era a única que se opunha a uma proposta grupal. Encontrei-me dizendo: ‘Eu não quero, não estou disposta’. Escutar-me dizendo isso me impactou. Já sou grande e é a primeira vez na minha vida que o digo. Me saiu de dentro sem chegar a pensá-lo. Porém logo sucedeu algo que me surpreendeu ainda mais, quando o resto das minhas companheiras puseram em evidência aquilo que eu tinha dito, senti um impulso de dizer: ‘Não fui eu’”. Essa passagem é narrada pela psicóloga argentina Clara Coria em sua obra “Las negociaciones nuestras de cada día”.

Muitas vezes o ímpeto de dizer “não fui eu” é um resquício de preguiça pueril mantida de modo constante também na fase adulta, isto é, aquela velha tática pela qual a menina, dizendo sim, adaptando-se, obtinha na família, com a mamãe, com o papai, gratificações imediatas. Então, naquele estilo de vida apreendido tinha o atalho a certas vantagens.

Em algumas situações, desde a tenra idade, nos adaptamos para desfrutar vantagens pessoais momentâneas, iniciando assim o processo que fragiliza nossa capacidade de defender posições, enfrentar problemas, de resiliência.

Negar muitas vezes nos causa mal estar, nervosismo, a violência da recusa parece residir em crermos que emiti-la fere o destinatário, assim como muitas de nós nos sentimos magoadas quando recebemos um não como resposta. Negações estão ligadas à imagem da maldade e convertem-se em uma negação a nós mesmas, pois somente “meninas boas” vão para o céu.

O dizer “não fui eu” constitui-se assim num ausentar-se, num dissimular, numa forma de neutralizar nosso protagonismo pessoal, minimizar nossas ambições fazendo-nos pequenas, débeis, insignificantes, como se desse modo estivéssemos protegidas.

Essa atitude transforma-se em defesa constante de uma inércia e leva-nos a procurar atalhos para não nos posicionarmos. No entanto, fazer-se invisível torna-se a nossa ruína, a maior das desproteções: deixamos espaços abertos para que outros pensem, falem e façam.

A vida é cheia de lutas, de disputas, por isso a cada estímulo, a cada situação, a cada oportunidade precisamos estar prontas para reagir na busca do aumento de nós mesmas, de nossa personalidade, do nosso espaço territorial, do nosso projeto existencial.

Por Alice Schuch, palestrante e pesquisadora do universo feminino 

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É brasileira, doutora em Ciências da Educação - Universidad de Desarrollo Sustentable - UDS. Mestre em Ciencias del Educación pela Universidade Del Mar (Chile). Especialista em Psicologia com Endereço Ontopsicológico pela Universidade Estatal de São Petersburgo (Rússia). Especialista em Políticas Públicas em Gênero e Raça pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (Rio Grande do Sul, Brasil). Pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Castelo Branco (Rio de Janeiro, Brasil). Possui MBA Business Intuition pela Antônio Meneghetti Faculdade (Recanto Maestro, RS, Brasil) e MBA La Business Intuition Del Made in Italy pela FOIL Itália (Milão, Itália). Atuou na Antônio Meneghetti Faculdade como responsável pelo setor Responsabilidade Social, Coordenação Pedagógica e Ouvidoria. Autora de "Mulher: Aonde vais? Convém?" e “Contos de Alice”, fatos da vida real vivenciados por Maria Alice Schuch que ilustram sua pesquisa exposta em diversos eventos e congressos no decorrer dos últimos anos: Seminário FOIL São Paulo (Brasil, 2002); Faculdade de Psicologia da Universidade Estatal de São Petersburgo (Rússia, 2003); Congresso Internacional Ontopsicologia e Memética em Milão (Itália, 2003), que se encontra publicado na obra homônima, de Antônio Meneghetti. A pesquisa também abrangeu a participação da autora no International Congress Business Intuition, realizado em Riga (Letônia, 2004); no XXI Encontro Nacional dos Women’s Clubs em Canela (Brasil, 2006); no evento de premiação da Fondazione di Ricerca Scientifica ed Umanistica Antônio Meneghetti em Genebra ( Suíça, 2011). No encontro “Brasil do Milênio” realizado na sede do Conselho Econômico, Social e Ambiental da República Francesa em Paris (2012), a autora participou do grupo de pesquisa da Antônio Meneghetti Faculdade. E, ainda, no 41º Encontro da Sociedade Brasileira de Psicologia em Belém (Pará, 2012), ocasião na qual foi apresentado o Projeto Mulher do Milênio, grupo de estudos da Antônio Meneghetti Faculdade referente ao 3º Objetivo do Milênio da ONU: “Igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres”.