Mulheres têm salário até 33,8% menor do que os homens nas empresas automotivas

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A indústria automotiva é reconhecidamente um ambiente majoritariamente masculino. Mais precisamente, com 83% dos cargos em empresas da cadeia produtiva ocupados por homens. Esta é uma das conclusões da pesquisa Presença Feminina no Setor Automotivo, levantamento inédito realizado pela revista Automotive Business em parceria com a MHD Consultoria no segundo semestre de 2017 e apresentado com exclusividade dia 20, durante fórum de mesmo nome. Com o objetivo de gerar conhecimento sobre a participação da mulher nessa indústria, o evento foi criado para apresentar e debater as informações apuradas no levantamento. O conteúdo gerado ali vai compor o relatório final da pesquisa, que será divulgado em março nas plataformas digitais de Automotive Business.

Um dos fatores que podem contribuir para que as mulheres não se interessem tanto em desenvolver carreira no setor automotivo é a alarmante diferença salarial em relação aos homens, presente desde as posições iniciantes. Entre estagiários, a pesquisa indica que as profissionais do sexo feminino recebem remuneração 0,8% inferior à dos colegas do sexo masculino. O abismo se aprofunda em cargos mais altos, chegando a absurdos 33,8% de desvantagem para as mulheres que ocupam cadeira de vice-presidente ou presidente de companhias automotivas. A desvantagem é bem maior do que a identificada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que indica que as mulheres recebem 16% a menos do que os homens globalmente.

A pesquisa Presença Feminina no Setor Automotivo teve como foco fabricantes de autopeças e montadoras de veículos, que representam 68% dos participantes do estudo. O levantamento, no entanto, foi aberto e assim teve respostas de outros elos da cadeia automotiva, como fornecedores de insumos e de serviços. Ao todo foram 127 respostas em um universo-alvo de menos de 500 empresas, o que garante, portanto, alta confiabilidade. O foco estava em entrevistar responsáveis por áreas de recursos humanos das companhias automotivas.

PARTICIPAÇÃO DA MULHER CRESCE DURANTE A CRISE

O estudo comparou os dados das empresas de 2017 com os registrados em 2013, período pré-crise em que o setor automotivo teve pico no nível de empregos. O levantamento mostrou saldo positivo. No período avaliado, cresceu de 15% para 17% a participação das mulheres no quadro de colaboradores das empresas entrevistadas, com os homens mais afetados pela redução no número de trabalhadores durante a crise.

“Os dados da pesquisa não explicam por que houve redução maior no número de funcionários homens. Mas os salários, em geral, mais baixos pagos às mulheres podem ter garantido certa proteção aos seus empregos nesse período de contração do mercado. É possível ainda que mudanças culturais tenham contribuído para este cenário ou que o nível mais elevado de escolaridade das profissionais do sexo feminino tenha feito a diferença”, avalia Paula Braga, diretora de Automotive Business e líder do projeto Presença Feminina no Setor Automotivo.

PRESENÇA NA LIDERANÇA FICOU MAIOR, MAS AINDA LONGE DO EQUILÍBRIO

A participação da mulher também cresceu consideravelmente na liderança das empresas entrevistadas, com aumento de 52,7% no número de colaboradoras em cargos de diretoria entre 2013 e 2017. Apesar do salto porcentual, o número absoluto ainda é pequeno: são 84 mulheres diretoras entre as companhias participantes do estudo. Quando analisadas posições de vice-presidência e presidência, o número permanece estável, com 17 mulheres nestas posições.

 

Ainda assim, o cenário geral é de desigualdade na liderança da indústria automotiva, já que apenas 40% das empresas entrevistadas contam com mulheres em cargos de diretoria. O caso é ainda mais grave quando analisada a vice-presidência e a presidência, posições que são ocupadas por profissionais do gênero feminino em apenas 13% das empresas pesquisadas.

“Enquanto isso, nas famílias brasileiras, as mulheres seguem como as maiores responsáveis por tomar a decisão de compra do carro, o que coloca a indústria automotiva em descompasso com o próprio público-alvo”, observa Paula. Quando analisado o quadro total de funcionários, só 0,6% do total dos trabalhadores das empresas entrevistadas são mulheres em posição de liderança. O número é pequeno se considerado que, em média, uma grande empresa industrial tem de 3% a 5% de seus colaboradores na liderança.

MULHERES SÃO MAIS ESCOLARIZADAS

Ironicamente, mesmo com presença menor na liderança, a mulher é mais escolarizada do que os homens na indústria automotiva. Das empresas participantes do estudo, 37% do quadro feminino de funcionárias tem ensino superior completo e 8% acumulam ainda especialização. Entre os homens que trabalham nas empresas do setor, apenas 23% têm ensino superior e só 6% fizeram um curso de especialização.

HOMENS TÊM MAIS LONGEVIDADE NO SETOR

Nas empresas que participaram da pesquisa, há percentual maior de homens nas faixas etárias entre 31 e 45 anos (53% do total) e acima de 46 anos (21%). Entre as mulheres, a longevidade no setor automotivo é menor: 48% têm entre 31 e 45 anos e só 11% estão na faixa etária acima de 46 anos.

“O estudo mostra avanços consistentes da mulher no setor automotivo, mas também evidencia desigualdades. Acima de tudo, as empresas precisam se conscientizar de que há um mar de oportunidades para melhorar a diversidade de gênero, tornando os negócios no setor mais plurais e, consequentemente, mais lucrativos”, conclui Paula.

Fonte: Revista Automotive Business, 23 de fevereiro de 2018