Norma Soely Guimarães – DRT 0001969/PI
A língua frequentemente se utiliza da dimensão simbólica para oprimir. A luta semântica é uma luta pelo poder.
A criança, desde muito cedo, aprende que homem é diferente de mulher, e ao se deparar com a imagem e a palavra, que são colocados à sua frente, percebe, aos poucos, que o mundo foi feito para o homem. Na escola, a criança aprende que, quando se fala “homem”, está subentendido “mulher”. Com essa prática simbólica, a menina pode sentir-se excluída do mundo e o menino sentir-se o dono do mundo.
A semântica é tão cruel com as mulheres, que o termo homem público não se aplica à mulher. Mulher pública é prostituta e homem público é político, popular, que exerce cargo público. As mulheres também são esquecidas quando denominamos muitas atividades laborais: professor, contador, médico, advogado.
A História do Brasil, contada nas escolas, também reproduz a invisibilidade da mulher. As mulheres representadas são poucas e suas histórias mal exploradas, especialmente as de mulheres negras. A biologia e a ciência não estão isentas dessa reprodução misógina. A espécie se chama homo (sapiens, erectus, habilis).
Não podemos deixar de reconhecer que a semântica da língua portuguesa brasileira é misógina.
Nós, mulheres, podemos sair dessa invisibilidade feminizando nossa palavra, fazendo e escrevendo a nossa história. É preciso um outro olhar para o mundo, na luta pela igualdade de gênero.